Dependência química: uma epidemia atual que atinge toda a sociedade
A epidemia
A epidemia de dependência química na sociedade global é alarmante. Dados da ONU revelam que em 2015, cerca de 250 milhões de pessoas usavam drogas. Dessas, cerca de 29,5 milhões de pessoas – ou 0,6% da população adulta global – apresentaram transtornos relacionados ao consumo de drogas, incluindo a dependência.
Um a cada 20 vinte adultos consome drogas no mundo numa ampla faixa etária dos 15 anos 64 anos. Entre os consumidores, os usuários, um em cada 10 tem problemas sérios de dependência química.
Os opioides apresentam os maiores riscos de danos à saúde entre as principais drogas e representam 70% de impacto negativo da saúde associado aos distúrbios do uso de drogas em todo o mundo, de acordo com o último Relatório Mundial sobre Drogas, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
Diante esses números, a comunidade internacional decidiu avançar em uma ação conjunta para reduzir a demanda e a oferta de todos os tipos de droga no planeta.
O que é dependência química?
A dependência química é considerada um transtorno mental, em que o portador desse distúrbio perde o controle do uso da substância, e a sua vida psíquica, emocional, espiritual e física vai se deteriorando gravemente. Nessa situação, a maioria das pessoas precisa de tratamento e de ajuda competente e adequada.
Dependência química não é simplesmente “falta de vergonha na cara” ou um problema moral, é uma doença como a Diabetes, o paciente não escolhe ter a doença, mas pode sim escolher fazer o tratamento, e assim como diabéticos controlam o açúcar no sangue com medicações e cuidados com a alimentação, o dependente químico pode buscar ajuda para controlar sua adicção e entender o ciclo da doença. É considerada uma doença biopsicossocial.
Dependência química: uma doença crônica?
É classificada entre os transtornos psiquiátricos, sendo considerada uma doença crônica que pode ser tratada e controlada simultaneamente como doença e como problema social, segundo OMS.
Como doença crônica, leva a pessoa a uma progressiva mudança de comportamento, gerando uma adaptação a doença, a fim de proteger o uso da droga. Ainda na concepção da dependência química como doença, é caracterizada como progressiva, incurável, mas tratável, apesar de problemas significativos para o dependente. É uma doença de evolução própria, que pode levar à insanidade, prisão, morte ou ao tratamento.
É uma doença crônica incurável: Uma vez dependente químico, sempre dependente, indiferente de estar ou não em recuperação, usando ou não usando algum tipo de droga. Não existe cura para a dependência química, existe sim tratamento com êxito – contínuo e permanente.
Drogas que geram dependência química
- Maconha;
- Haxixe;
- Skank;
- Anfetaminas;
- Inibidor de apetite;
- Cocaína;
- Crack;
- Opiáceos;
- Heroína;
- Morfina;
- Codeína;
- Ópio;
- Drogas farmacêuticas para analgesia;
- Alucinógenos;
- LSD;
- Ecstasy;
- Chá de cogumelo;
- Chá de lírio;
- Inalantes;
- Cola de sapateiro;
- Cola de aeromodelismo;
- Nicotina;
- Cigarro;
- Charuto;
- Cachimbo;
- Álcool Etílico;
- Substância lícita mais usada em todo o mundo que a longo prazo destrói todo organismo;
- Sedativos;
- Hipnóticos;
- Ansiolíticos.
Convivendo com a dependência química
Antes de descobrir nas drogas a fonte ideal de alívio necessário à sensação de desconforto que o persegue, antes de se atirar neste mundo, o dependente químico pode ter experimentado e frequentemente abusado de comida, televisão, sexo, trabalho, perigo, jogo, esportes, religião, meditação, etc. No caso dos dependentes químicos, essas manias foram insuficientes para manter sua necessidade de alívio.
Prejuízos da dependência química
Os prejuízos neurológicos, cognitivos e relacionais causados pelas substâncias são em sua maioria irreversíveis, progressivos e passam despercebidos pelo indivíduo. Os danos físicos e sociais quando percebidos impulsionam, ainda mais, o dependente químico a uma insaciável busca pelos efeitos da droga.
A necessidade de buscar constantemente a droga altera a vida do dependente afetando as relações familiar, social e profissional, trazendo para o indivíduo um intenso sofrimento físico e emocional. Assim, o tratamento da dependência química envolve o indivíduo e toda sua rede social afetada.
As drogas no mundo
O Relatório Mundial sobre Drogas de 2017 traz uma visão global sobre a oferta e a demanda de drogas. A dependência química causa grande preocupação aos governos de todos os países devido ao seu impacto na saúde e no crime organizado, alimentando o tráfico internacional de drogas.
Destes 27 milhões de “consumidores problemáticos”, perto de metade (12,19 milhões) usam substâncias injetáveis, calculando-se que 1,65 milhões dos quais estavam infetados com o vírus da AIDS em 2013.v
Mortes por dependência química
Anualmente, a dependência química, o consumo de drogas mata mais de 200 mil pessoas em todo o mundo. Por regiões, a Ásia lidera o número de mortes com 45% das vítimas; a América do Norte, 25%; África 20%; Europa 9%; América Latina, 4% e Oceânia, 1%.
A droga que causa mais problemas de saúde e mortes é o ópio com o uso de drogas injetáveis que propaga a AIDS e os falecimentos por overdose. Os consumidores de drogas injetáveis, como a heroína, têm uma taxa de mortalidade 15 vezes superior à dos outros indivíduos da mesma idade e sexo que não as usam.
Consumo por dependência química
A maconha é a droga mais consumida no mundo, cerca de 182 milhões de pessoas, seguida pelas drogas sintéticas, incluindo as anfetaminas e o Ecstasy, com 52,7 milhões. Os derivados do ópio são consumidos por 48,9 milhões de pessoas e a cocaína por 17 milhões.
Comportamento na dependência química
- Onipotência: o indivíduo acredita estar sempre no controle;
- Megalomania: tendência exagerada a crer na possibilidade de realizar um intento visualizando sempre o resultado;
- Manipulação: mentalidade de que tudo se faz pela realização de seus desejos, principalmente pela obtenção e uso de substâncias psicoativas;
- Obsessão: atitudes insanas pelo desejo de consumir drogas;
- Compulsão: atitudes desconexas, incoerentes com a realidade provocadas pelo desejo intenso e necessidade de continuar a consumir a substância;
- Ansiedade: necessidade constante da realização dos desejos;
- Apatia: Falta de empenho para a realização de objetivos e metas;
- Autossuficiência: mecanismo de defesa usado para afastar da consciência os sentimentos de inadequação social gerando uma falsa sensação de domínio;
- Auto piedade: um tipo específico de manipulação que o dependente usa para conseguir realizar algum propósito;
- Comportamentos antissociais: repertório comportamental gerado pela instabilidade emocional que o indivíduo desenvolve sem estabelecer vínculos tendo sua imagem marginalizada pelo meio social;
- Paranoia: desconfiança e suspeita exagerada de pessoas ou objetos, de maneira que qualquer manifestação comportamental de outras pessoas é tida como intencional ou malévola.
Dependência química: seus hábitos e consequências
Tolerância: Necessidade progressiva de maiores quantidades da substância para atingir o efeito desejado; significativa diminuição do efeito após o uso continuado da mesma quantidade da substância.
Abstinência: Presença de sintomas como ansiedade, irritabilidade, insônia e sinais fisiológicos (tremor) desconfortáveis após a interrupção do uso da substância ou diminuição da quantidade consumida usualmente; Consumo da mesma substância ou outra similar a fim de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência.
Ingestão excessiva: Ingestão da substância em quantidades maiores ou por um período maior do que o período de uso inicial.
Desejo de diminuir: O indivíduo expressa o desejo de reduzir ou controlar o consumo e a quantidade da substância ou apresenta tentativas nesse sentido, porém sem sucesso.
Perda de Tempo: Boa parte do tempo do indivíduo é gasto na busca e obtenção da substância, na sua utilização ou na recuperação de seus efeitos.
Negligência em relação às atividades: O repertório de comportamentos do indivíduo, como atividades sociais, ocupacionais ou de lazer do dependente encontra-se extremamente limitado para atividades que envolvam o uso da substância.
Persistência no uso: Embora o indivíduo se mostre consciente dos problemas ocasionados, mantidos e/ou acentuados pela substância, sejam físicos ou psicológicos, seu consumo não é interrompido.
A dependência química e seus efeitos na saúde pública
7 a cada 10 pessoas internadas em hospitais gerais no planeta, estão lá pela complicação do uso de alguma substância química. Como: cirrose causada pelo consumo de álcool, câncer de pulmão e de mama ligados ao uso de tabaco, traumas cranianos adquiridos por condutores dirigindo embriagados, acidentes vasculares cerebrais secundários associados ao uso de cocaína, overdoses, prática de sexo indiscriminado sem qualquer tipo de proteção, exposição a situações de violência.
No Brasil, a cada 10 tentativas de assassinato por arma de fogo, oito delas acontecem com o agredido e/ou agressor estando sob o efeito de álcool ou outra substância psicoativa. Vale dizer que morte por armas de fogo é a causa mais frequente de morte em menores de 20 anos no país!
Tratamento para dependência química
A ONU denuncia que apenas um em cada seis toxicodependentes com problemas graves de dependência química tem acesso a programas de tratamento. Os maiores estigmas e preconceitos recaem sobre as mulheres em particular que enfrentam barreiras no tratamento.
Conhecer o perfil do dependente químico que busca auxílio em unidade de recuperação é importante para a elaboração de estratégias de tratamento buscando a integração desses indivíduos à família e a sociedade.
Veja também: O que gera a dependência química?
O tratamento consiste em parar de usar a droga e se manter em abstinência. O processo terapêutico depende da vontade do paciente e pode ser realizado em ambientes como clínicas, comunidades terapêuticas e hospitais especializados. A recuperação envolve reabilitação, reaprendizagem ou restabelecimento da capacidade de manter um estilo de vida positivo.
Dr. Salim
CRM-SP 43163
É conhecido também como médico da família. Formado em 1981, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, concluindo residência dois anos depois, em 1983. Desde então, atua como clínico geral no Hospital Sírio Libanês, além de atender também em sua clínica privada.
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