Anorexia: como cuidar?
Conheça os sintomas e os tratamentos dessa doença, que atinge principalmente adolescentes e mulheres jovens
A anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno do comer compulsivo são distúrbios nos quais há preocupações excessivas em relação à comida, imagem corporal e peso. Afeta preferencialmente adolescentes e mulheres jovens, mais vulneráveis à exigência cultural de serem magras. O padrão físico magro, especialmente na cultura ocidental, é uma espécie de condição para reconhecimento e sucesso, tanto nas profissões que exigem a magreza (modelos, bailarinas, atletas) quanto para a simples aceitação social (a criança ou o adolescente “gordo” é apelidado e discriminado pelos próprios colegas de escola).
A pressão maior em relação à figura física feminina faz que a maioria dos anoréxicos e bulímicos seja do sexo feminino, mas cerca de 1 em cada 20 doentes pertence ao sexo masculino. A bulimia nervosa é 2 vezes mais frequente que a anorexia, afetando cerca de 2% das mulheres entre 16 e 35 anos. Muitas mulheres, especialmente as que frequentam academia de ginástica, embora não apresentem todos os sintomas da anorexia ou bulimia nervosa, têm problemas com a comida e com a imagem corporal.
Hoje, vamos focar na anorexia nervosa, que tem três características principais:
– Preocupação extrema com o tamanho corporal, peso e magreza – a pessoa tem um medo mórbido de engordar. O modo como vivencia o peso ou a forma do corpo está perturbado, a ponto de negar o baixo peso atual.
– Busca ativa de baixo peso corporal – dietas, jejuns prolongados, vômitos provocados, uso de diuréticos e laxantes e/ou realização de várias horas diárias de exercícios físicos.
– Ausência de menstruação por três ciclos consecutivos (chamada amenorreia), provocada por alterações hormonais devidas ao baixo peso. No homem há perda de potência e interesse sexuais.
O início dos sintomas geralmente se dá após uma dieta para emagrecimento em uma pessoa com sobrepeso. Muitas adolescentes relatam problemas com autoestima e sofrimento com o tamanho corporal, situações que as levam a iniciar o regime alimentar (por exemplo, serem caçoadas na escola por conta de seu peso ou terem sido abandonadas pelo namorado pelo mesmo motivo).
O paciente passa a exercer controle preciso sobre o que come, o peso corporal e a aparência. Para muitos, o ato de comer torna-se uma fonte importante de ansiedade. Outros conseguem se alimentar, induzindo o vômito em seguida. Alguns chegam a jejuar dias, antes de comer quantidades excessivas de comida. A maioria dos doentes pensa em comida o dia inteiro, o que prejudica a concentração, podendo afetar o desempenho escolar ou profissional. Alguns passam horas preparando refeições elaboradas para a família ou amigos, mas se recusam a comê-las.
Os procedimentos do doente costumam provocar uma rápida perda de peso, que chega a 15% ou mais do peso esperado, para um indivíduo com sua altura e idade. Mesmo assim, por conta do distúrbio da imagem corporal, o paciente insiste em não comer e exercitar-se demasiadamente, pois se sente gordo. O peso atual pode estar 85% abaixo do esperado; ainda assim o anoréxico insiste em mantê-lo.
Quando o comportamento se torna visivelmente anormal, os pais e amigos do paciente tentam intervir, na tentativa de ajudar. O doente se revolta, o que gera muitos conflitos e discussões calorosas sobre dieta, peso e estilo de vida. Pode haver ruptura entre amigos com distanciamento e isolamento progressivos das relações sociais. Tipicamente, meses se passam antes que a família procure ajuda médica.
Além das mudanças psicológicas e comportamentais, a doença leva a: crescimento de penugem (pelos finos) nos braços, nas costas e na face; pressão arterial baixa e, nos estágios avançados, inchaço nos tornozelos; níveis hormonais alterados, cessação da menstruação.
O tratamento depende da severidade do quando; às vezes, por razões de sobrevivência física, requer internação. O paciente não se acha doente, necessitando de ajuda dos pais, professores e amigos, pois, literalmente, pode vir a morrer de fome.
Medicamentos, orientação nutricional e psicoterapias individual e grupal podem ser usados. A psicoterapia visa lidar com os sentimentos de insegurança, baixa autoestima e o pavor de engordar. É fundamental o esclarecimento da família e amigos sobre a natureza da doença e o manejo do cotidiano do anoréxico.
Em certos casos, a recuperação de peso é total, mas em cerca de 25% dos doentes o peso se mantém abaixo de 75% do normal. Muitas adolescentes, mesmo quando recuperam o peso normal, continuam sem menstruação. Cerca de 1 em cada 4 pacientes terão dificuldades alimentares ao longo da vida.
No próximo post sobre o assunto, vamos falar sobre a bulimia nervosa.
Dr. Salim
CRM-SP 43163
É conhecido também como médico da família. Formado em 1981, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, concluindo residência dois anos depois, em 1983. Desde então, atua como clínico geral no Hospital Sírio Libanês, além de atender também em sua clínica privada.
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